PT

PMDB

BASE

* Samuel Celestino

O início de tudo o que está a ocorrer vincula-se à precipitação, no início do ano, do lançamento de quatro pré-candidatos ao governo baiano, na sucessão de Wagner. Foi um erro político grosseiro. O governo petista baiano se apóia numa base aliada que, diante dos quatro nomes anunciados ficou sem movimento. Percebeu que servia para apoiar, mas não para ser apoiada. A crise que está dentro do PT, envolvendo exatamente os quatro nomes, extrapolou para a base e criou problemas que agora dificultam as ações do partido. Não é uma crise pequena.

Muito antes de o presidente nacional do PSB, o pré-candidato à Presidência, Eduardo Campos, surpreender o espectro político nacional, ao convidar Marina Silva para integrar a sua legenda, já que o Rede de Sustentabilidade não recebeu o registro do Tribunal Superior Eleitoral, a senadora socialista Lídice da Mata anunciou que pretendia se lançar candidata ao governo. Iria lutar para receber o apoio de Wagner. Pouco tempo depois que a sua candidatura estava posta, ainda acalentava a esperança do apoio do governador.

O PT não entende e nunca entendeu assim. Deixou claro e anunciou que o candidato sairia da sua legenda e a composição das demais vagas – senatória e vice – seria decidida posteriormente. O PP anunciou, através do deputado Mário Negromonte, que o partido faria o vice, o que não parece se sustentar. Surgiu, então, a possibilidade do afastamento da legenda, que estuda a viabilidade de lançar candidatos próprios. Já Lídice, com a reviravolta da presença de Marina no PSB, terá que montar um palanque baiano para Campos, afastando-se, assim, da candidatura Dilma Rousseff e, definitivamente, do PT. Nos próximos dias deve entregar os cargos que tem no governo Wagner e se desvincular da base partidária. Mantém-se sem mudança o PSD de Otto Alencar, que almeja a candidatura ao Senado.

No núcleo petista, que inventou uma estranha forma de escolher entre quatro nomes pré-lançados, há muita desconfiança, o que contribui para convulsionar, mais ainda, o partido. José Sérgio Gabrielli e Walter Pinheiro têm absoluta desconfiança de que o grupo escolhido para decidir que nome representará o PT irá marchar com Rui Costa, que é, de há muito, o candidato “in pectori” de Jaques Wagner. Assim, a solução para a definição vem sendo retardada. Agora, está marcada para 30 de novembro. Tenta-se ganhar tempo para ver se surgem luzes que possam encaminhar o processo, sem que haja fraturas no partido. Gabrielli, em contraposição à preferência do governador, é o preferido de Lula, e Walter Pinheiro comanda uma das mais densas tendên cias do partido.

Para completar, pouco a pouco a oposição se move. Não tem pressa. O ex-governador Paulo Souto não diz palavra, mas dá sinais evidentes de que pode vir a ser o candidato. Suas mensagens com críticas ao governo petista aparecem nas redes sociais, no Facebook, e nos artigos que, vez por outra, publica neste jornal. Não faz seu estilo estar na mídia e dar declarações, o que somente o fará quando decifrar o seu enigma. Outro nome de expressão no DEM é o prefeito de Feira de Santana, José Ronaldo, que tem ampla penetração no eleitorado da região e, ainda, José Carlos Aleluia, secretário de Transportes do prefeito ACM Neto. No PMDB está a postos Geddel Vieira Lima, que será candidato a menos que Souto se revele. Neste caso abre espaço para o ex-governador. No PSDB está João Gualberto, que também poderá abrir mão para o ex-governador. A oposição, ao contrário do que se imagina, está trabalhando nos bastidores e nos municípios. E se uniu diferentemente do PT.

No plano nacional, para dificultar Marina e Eduardo Campos, a presidente Dilma sancionou um projeto de lei limitando os mecanismos para a formação de novos partidos. De fato, a quantidade de partidos no País é grande e boa parte deles é criada para realizar negócios à sombra do poder, poderia e deveria diminuir, mas não nas circunstâncias atuais. Ao que parece, a presidente agiu para dificultar as ações de Marina Silva. As novas regras não permitem acesso ao dinheiro do fundo partidário e ao tempo da propaganda na televisão e rádio. Ela poderia ter sancionado o projeto de lei há três meses, antes do surgimento do Partido da Solidariedade e o PROS, mas esperou os fatos ficarem mais claros. Ficou nervosa quando a surpresa invadiu o Palácio do Planalto apà ³s Marina e Campos, sem que houvesse qualquer expectativa na manobra, decidirem se aliar no PSB. O Palácio do Planalto experimentou um abalo sísmico.

O tempo da propaganda eleitoral é determinado através do cálculo sobre o número de parlamentares eleitos pelas siglas. Diante de partido novos, como acontece, alguns parlamentares procuram migrar para legendas novas que, assim, passam a ser beneficiadas. É um jogo amoral, tal qual a política que se exercita no País. Eles levam, ao se transferirem, seus votos, o dinheiro e o tempo da propaganda do partido anterior para a nova legenda. As novas regras mudam tudo. Seriam positivas se nelas não estivesse embutida uma espécie de desconfiança de que, ao sancionar a lei, Dilma Rousseff mirou a Rede de Marina. Se essa desconfiança prevalecer, passa-se a supor que a presidente e a sua sombra, Lula, não têm certeza de que ela será eleita. Pelo contrário, presume-s e que enfrentará uma eleição dura, até porque o País não atravessa uma boa fase, sobretudo no setor da economia.

Aqui na Bahia, como visto acima, o quadro está muito confuso. O PT não atravessa uma boa fase e, pelo que se observa, a oposição aguarda o que acontecerá para, somente aí então, colocar o seu bloco na  rua.

*Coluna de Samuel Celestino publicada no jornal A Tarde deste domingo (3)

 

Compartilhe em suas redes sociais!