PT propõe Miraldo Mota para prefeito

 

ITAPETINGA: Cansados de tentar uma aproximação com o prefeito José Carlos Moura, os petistas reagiram esta semana e lançaram o nome do empresário Miraldo Mota para as prévias de 2012. O desgaste entre o atual prefeito e seu partido tem origem desde o início do governo, quando o prefeito JCM privou os seus companheiros de participar das decisões políticas da gestão. Segundo o entrevistado desta semana, Miraldo Mota, várias tentativas foram feitas a fim de abrir um diálogo com o prefeito para que o PT participasse de fato do governo municipal implementando práticas democráticas, mas foram em vão. Além disso, o prefeito tem sido alvo de constantes denúncias de irregularidades na prefeitura,o que gerou até a criação de uma CPI para apurar fatos. Diante de todo esse quadro, o PT de Itapetinga lançou um novo candidato para representar a sigla nas próximas eleições. Miraldo José de Araújo (Miraldo Mota, que acabou adotando o sobrenome da mãe), natural de Castro Alves, reside em Itapetinga desde agosto de 1960, é pequeno empresário e seu nome tem boa aceitação entre os companheiros do PT. Ele falou à repórter Eliene Portella.

 

Jornal Dimensão – Uma pergunta que todo itapetinguense gostaria de lhe fazer: porque Miraldo Mota deixou a Secretaria de Administração no início do atual governo municipal?

– Miraldo Mota – A primeira alegação que apresentei no momento foi que com a minha ida para a prefeitura, o meu afastamento do comércio provocou uma certa queda em minhas vendas e minha esposa estava ficando com um montante muito grande de trabalho. E eu também estava com algumas insatisfações no governo, cheguei a apresentar algumas delas para o partido, ações que eu não aceitava porque a ordem do partido era outra e eu estava agindo contra a nossa formação partidária. Me afastei depois de apresentar ao prefeito meus motivos e em seguida meu pedido de demissão. Do dia 1º de janeiro daquele ano, fui secretário até o dia 11 de maio. LEIA NA ÍNTEGRA…

 

JD – Por que então agora o Sr. decidiu submeter o seu nome ao PT para ser o candidato? A reeleição do atual prefeito não é o processo natural para o pleito?

M.M. – Com certeza, o certo seria e é o que determina o partido: quem está no poder tem prioridade sobre os demais companheiros. No entanto, algumas inabilidades do governo atual, a não participação do prefeito dentro das reuniões do PT para apresentar as dificuldades por que passa o seu governo e deixar isto chegar até a uma CPI, levou o partido a tomar um susto. Desta forma, no momento em que tínhamos uma prova escrita, concreta, de que alguma coisa não estava bem no governo do atual prefeito, e pudemos ver isto através do relatório da CPI, então os companheiros do PT resolveram chamar a uma postura o administrador da prefeitura e ao fazer isto, o resultado a que se chegou é que tínhamos outras opções dentro do partido para concorrer com ele.

 

JD – Há comentários a respeito da relação entre o atual prefeito e o PT de que não seria muito boa e que em uma recente reunião ficou muito visível isso, com parte da direção do PT tendo pedido a saída de alguns componentes da atual administração (Zenóbio Cerqueira, Franklin Ferraz e Israel Miranda) para manter o apoio ao prefeito. Isto é verdade? como o Sr. avalia esta relação?

M.M. – Esta reunião realmente aconteceu, o prefeito não se fez presente e foi logo em seguida que eles me chamaram a atenção para participar dessas discussões, convidaram o companheiro Rosemberg Pinto (deputado estadual PT) para outra reunião e lá alguns companheiros sugeriram a apresentação de meu nome para ser indicado às prévias. Nessa reunião realmente houve um xeque-mate com relação a algumas pessoas que hoje fazem parte da administração e que foi pedido a saída delas para garantir o apoio ao nome do prefeito. Como isso não aconteceu, apresentou-se outro nome, pois o deputado ficou de marcar uma nova reunião com o prefeito, vereadores e secretários e como nada se resolveu, foi então apresentando o meu nome para a diretoria estadual do partido e foi receptivo.

 

JD – Como o PT municipal irá se posicionar caso haja uma resistência por parte do PT estadual diante desta decisão quanto a apresentação de seu nome, já que o deputado Rosemberg Pinto (PT) declarou em alguns meios de comunicação que está confiante na reeleição de Zé Carlos?

M.M. – O deputado não chegou a entrar em contato comigo e não tenho conhecimento de que ele estivesse fazendo algum tipo de manobra nesse sentido. Acho até que ele entrou em contato com o presidente de nosso partido aqui, Branco, mas eu não estive ainda em reunião com o diretório para me inteirar dessas coisas. Quanto ao deputado, creio que realmente ele está na defesa da candidatura de Zé Carlos, acho justa até, pois como prefeito ele tem a prioridade… mas as atitudes de seu governo não o credencia.

 

JD – De que forma o Sr. avalia o atual governo municipal? Na sua opinião, há, de fato, um descontentamento por parte da população?

M.M. – Há um descontentamento que eu acho até alto. Falam em pesquisas aí, mas eu não acredito em pesquisas que só ficam nos comentários e não se apresentam os dados. Para mim pesquisa se é científica, mesmo que não seja registrada, deveria ter seus dados mostrados, sendo coerente. Eu vejo aqui em meu escritório muitas expressões tipo “votei e não voto mais”. Expressões que escuto no dia a dia, mas a gente tem que avaliar os prós e os contra e fazer uma repaginada no governo para fazê-lo funcionar. Olhando do ponto de vista como eu avalio o governo, acho que há um sofrimento grande por não ter algumas ações nesses três anos que tivessem sido fruto administrativamente do governo municipal. Temos investimentos de dinheiro do governo federal, do governo estadual, que digamos de passagem é benéfico, mas que é uma postura do governo de Dilma. O PAC 1 e 2 chegaram a Itapetinga, mas eu não sei se foi bem administrado isso da forma tansparente para que a população tenha dado respaldo.

 

JD – O Sr. esteve também recentemente participando de uma palestra em um dos encontros marcados pelo pré-candidato pelo PR, Arnaldo Texeira. Como foi esta participação?

M.M. – Eu acho até que este foi o pingo de água para poder encher o balde da turma do PT. Arnaldo tinha me procurado várias vezes dizendo que precisávamos conversar e um dia veio aqui no meu escritório acompanhando de Gustercindo e José Elias. Trocamos algumas idéias e eles queriam saber o que é a administração municipal de Itapetinga e como foi o meu período como secretário de Administração. Conversamos e ficamos de ter outra prosa depois e me coloquei à disposição, pois sou um cidadão itapetinguense livre para poder dar a minha opinião onde eu for. Fui então convidado para ministrar uma palestra em uma das reuniões promovidas por ele, falei sobre os primeiros cem dias de governo. Foi pública a minha decisão de sair do governo e eu não fui para a imprensa na época porque acho muito desgastante você sair de um cargo e em seguida difamar o governo. Mas assumi a minha postura de em um momento oportuno e certo, mostrarmos aquilo que estava em desacordo com a governabilidade petista. Fiz isto lá na palestra a convite de Arnaldo, o resultado foi publicado na imprensa e caiu nos ouvidos dos companheiros do PT que vieram pra cima de mim em busca de justificativas para o meu ato, querendo saber se eu estava apoiando a possível candidatura de Arnaldo. A minha resposta foi negativa e inclusive o próprio Arnaldo é minha testemunha. Fui aplaudido várias vezes pelos que lá estiveram e eu creio que todo cidadão de bem tem direito de apresentar suas propostas ou fazer suas considerações independente de partido.

Gilson de Jesus também me convidou para discutir com ele a política de Itapetinga. Fiz algumas considerações e até citei que ele estava muito tímido como candidato a prefeito. O cidadão político tem que agrupar, tem que partir mesmo pra luta. Logo depois os companheiros do PT me procuraram para consultar se eu disponibilizaria meu nome para uma disputa a prefeito, o que eu retruquei dizendo que eu já estava fora do processo e não queria mais ficar naquela demanda. Eu até achei que o meu nome já não estava na lista dos filiados ao PT. Mas como os companheiros aguardavam esta minha contribuição, acabei cedendo e aqui estou.

 

JD – Miraldo Mota acredita na possibilidade de ainda existir a união das oposições?

M.M. – Não acredito, Itapetinga tem uma política muito adversa, ela é centrada em alguns elementos que dominam o eito político na cidade. E é diferente no PT, esta ação de agora por exemplo, mostra isto e surpreendeu a todos. A impressão que se tinha é que o prefeito era o dono do PT, e não é. O governo é governo e o partido é partido, são independentes. E por isso que os companheiros sugeriram o nome de Miraldo para poder mostrar para a sociedade que nem tudo está de acordo com o caráter administrativo atual. Se pegarmos por exemplo o relatório da CPI, que inclusive tive oportunidade de ler, veremos que aconteceram coisas na atual gestão petista que destoam de uma boa administração pública. Governar é ter transparência, poder mostrar transparência, o que é uma proposta do PT, fazer com que o governo seja participativo, mostrando ao povo para onde e de que forma está indo o dinheiro público.

 

JD – Como seria a sua forma de administrar a cidade e por onde começaria a trabalhar, caso saísse vencedor das eleições?

M.M. – Além da que já vem se batendo, que é a saúde, eu partiria para outras duas questões primárias, sendo uma delas o emprego. A cidade está perdendo muito emprego, o nosso comércio está caindo nas vendas e eu até entendo a manifestação da Nova Itapetinga com a mudança do trânsito, alegando que o comércio caiu por causa disto. Mas eles enxergam isto pelo lado de joguete político e não por uma questão econômica crucial que está acontecendo no comércio daqui. As demissões da Azaleia estão continuando paulatinamente. Eu acho que o prefeito teria que partir para a direção da empresa e abrir um diálogo, saber o que eles querem, se destruir a cidade ou valorizá-la juntamente com seu povo, dando a ela característica de cidade produtiva. Bem como estudar de que forma a prefeitura poderia contribuir para também colaborar com a empresa, enfim, não teria que se aceitar este caos que já se formou. E iria também em busca de outros empregos, procurar o Sedur, as secretarias de estado todas para viabilizar postos de emprego para dentro da cidade. Aqui foi criada uma expectativa de emprego muito grande, ao sairmos do pólo da pecuária e entrarmos no pólo calçadista, convergimos para a geração do emprego e esse por sua vez é que faz girar o capital dentro do comércio da cidade.

Eu fiz algumas críticas em determinado momento ao setor empresarial da Azaleia, dizendo que eles não investem no comércio de Itapetinga. Uma das críticas foi em relação às cestas básicas, pois eles deveriam transformar a bonificação da cesta em forma de cartão, para que o trabalhador pudesse comprar no comércio local, fazendo o dinheiro circular aqui. A empresa recebe incentivos dos governos municipal, estadual e federal e não dá esse retorno pra nós. Foi uma crítica que fiz direto à diretoria da Azaleia e também via CDL. Acho que esse é o papel do administrador também, ter argumentos para poder recuperar a ideia de que somos uma cidade crescente.

A outra questão que eu atacaria seria a dos investimentos municipais. A administração tem recursos e mesmo que sejam poucos, dá-se para investir na cidade. Acho que é fundamental que a população também veja o prefeito trabalhando. Os administradores anteriores mostraram até com mais assiduidade essa importância com a cidade, seja limpando até uma boca de lobo assim que ameaçasse uma chuva, bem como tapando buracos nas ruas, cuidando da conservação das vias de trânsito, limpando o mato, mantendo tudo limpo, enfim, coisas básicas, mas que mostram caráter administrativo.

 

JD – De que forma o Sr. acredita que irá agir o eleitor itapetinguense no próximo pleito, já que ele apostou em uma mudança e ao que parece, não consegue se mostrar satisfeito quase ao final do mandato do atual prefeito?

M.M. – O eleitor hoje tem uma mentalidade bem diferente. Ele viveu até 2004 quando eu disputei o pleito, ainda sob as rédeas dos chefes da política. 2006, com a disputa de governo de estado e deputado, vi que o quadro mudou e que houve uma pulverização de votos. Então podemos dizer que o setor calçadista influencia na população de Itapetinga de forma determinante, mudando a cabeça do eleitor. E essa mudança pudemos ver na eleição passada, o povo queria a mudança, não aceitava o que estava antes e nem o que esteve e aí deu uma resposta impressionante. Eu acho que esta mesma mentalidade do povo continua e até de forma mais agressiva, mais trabalhada, mais pensada. Escuto pessoas dizendo “votei e não voto mais”, “esperava uma mudança e ela não aconteceu”. O eleitor hoje quer sinceridade, transparência, honestidade, olhar no olho do candidato e saber se ele está ou não falando a verdade.

 

JD – Suas considerações finais.

M.M. – Quero dizer à população de Itapetinga que não sou eu quem está querendo ser candidato ou prefeito. Os companheiros de partido é que dizem que querem o meu nome e eu disponibilizei com pureza de alma. Já tive inclusive oportunidade de ter outros poderes e declinei deles. Se tivesse continuado meus estudos na igreja, talvez já fosse bispo, assim como colegas que estudaram junto comigo também o são agora. Hoje sou um empresário que consegue dar uma chance para 20 famílias se beneficiarem de meu trabalho e juntamente com eles me sinto em pé de igualdade. Assumi o chamado dos companheiros com tranqüilidade. Se tiver que ser eu, serei e procurarei administrar da melhor forma e transparência possível

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