Passei a compreender a devoção que o prefeito Adroaldo tem por São Francisco de Assis agora, com certo atraso, confesso. Afinal a inteligência, esse dom, que uns nascem com ela e, outros não, que é o meu caso. Sofro mais que muleta em sovaco de aleijado, para consegui uma fagulha dela e, com isso, sobreviver nessa selva de homens e de ratos, nessa floresta de lobos e hienas com um apetite sem igual diante de uma charqueada pública de que todos nós fazemos parte.

A inteligência, o dom do discernimento das coisas, são dons de Deus e a gente não os compra em feira, nem se acham por aí, não. Tive que queimar as pestanas noite à dentro, torrando neurônios lendo poesia das melhores (poesia é reunião de todas as filosofias), Borges, Milton, Baudelaire, Augusto dos anjos, entre tantos da mais fina cepa, me vali de leituras dessas feras e fiz um esforço tremendo, para me achar num deles, me contentando em tocar suas vestes. Só me acho. Talento que é bom, nada. Tenho consciência que não chego aos pés de nenhum deles. Se chegasse, talvez beijasse seus pés e cairia morto de tanta luz. Penei e continuo minha escalada à penha dos martírios, tentando obter um dedal desse dom, só reservado a poucos. Ralei muito para alcançar um pouco de compreensão do mundo em que ordinariamente convivo. Tive muitas dificuldades para fazer a leitura das coisas mais fáceis e, muito mais tormentos para compreender alguns mistérios que dentre alguns, que compõe o nosso universo da fé, um com certeza me atormentou e exerceu igual fascínio, talvez o que mais me faz queimar fusíveis e neurônios na caixa craniana: A inabalável fé e a fervorosa devoção do prefeito Adroaldo por São Francisco de Assis. Eu soube que em recente visita a Itália, por ocasião do “Prêmio internacional”, que recebeu o nosso “bondoso e magnânimo” prefeito, na cidade de Colônia na Alemanha. Ele, Adroaldo, deu um pulinho até Assis, cidade natal de Francisco, o santo, para pagar promessas e ficar devendo ainda mais, porque são muitos os pecados do seu governo cometidos contra o povo, motivo também que o fará retornar à Itália o ano que vem (agora em romaria), é claro. Todo mundo de chapéu de romeiros pagadores de promessas, uma estrelinha do PT gravado nas fibras da palha ou do sisal, em ocupação maciça dos pátios dos aeroportos de Ilhéus e Porto Seguro. É a Alegoria e a exaltação da carne-de-sol, invadindo a Europa como nunca se viu.

Como já abrira o caminho, o prefeito, agora, gozando da vida boa que leva, faz com que a Itália fique bem pertinho, é só atravessar a ponte.

São Francisco de Assis é, depois do Cristo, o maior santo da Igreja católica. Homem que muito contribuiu para semear a paz no mundo, a propósito, a Oração de São Francisco é uma das mais belas mensagens do que representa o verdadeiro pensamento cristão. São Francisco de Assis largou toda riqueza que tinha e foi viver com os animais, os bichos da floresta, com os pobres e os passarinhos. São Francisco naquela época, já era o próprio movimento ecológico encarnado em sua pessoa e em sua vida, um olhar iluminado preservando a natureza, isso por volta do ano de 1200.

O prefeito Adroaldo fez igual contrato de devoção com anatureza e com os bichos: Em sua vida como cidadão comum, sempre militou na esquerda, junto comigo e outros poucos companheiros, que queria para Itororó algo profundo em matéria de política, baseado em ensinamentos do santo de Assis. Mas Adroaldo logo que se elegeu, mudou a natureza, dividiu Itororó em duas partes: os bichos e os pobres. Fez tudo ao contrário de São Francisco, Adroaldo preferiu ficar com os bichos. Enquanto são Francisco alimentava os passarinhos com sua fé e sua esperança, Adroaldo alimenta os bichos, as feras vorazes da política de Itororó com o dinheiro que deveria ser destinado aos pobres e aos pequeninos de nossa cidade.

Os bichos ocuparam a prefeitura de Itororó com a conivência do prefeito Adroaldo. Eles, os predadores vorazes do dinheiro público, os que se alimentam do sangue e do suor do povo sem nenhuma parcimônia ou moderação. Ele, o chefe da repartição, o que não tem piedade de ninguém em matéria de política. Confessor público: Gaba-se prefeito de uma cidade, onde ele faz embaixadinhas com a lei, além de deitar e rolar com esta esfera, o faz com traquejo de cátedra, como Neimar ou Messi faz com a pelota. O prefeito em sua indiscreta ostentação de opulência e poder, ao estender as mãos às elites econômicas do município, diz ele, conceber com todos os pecados capitais a criação de um “grupo”, e está mesmo. Um grupo de bichos que a cada governo que passa se perpetua no poder e, a promessa de um governo justo, de esquerda, como ele tantas vezes nos esperançou, cada vez mais se distancia de nós e governos como o de Adroaldo se tornam uma ameaça cruel e permanente contra o povo.

Por amar demais os bichos e sendo esse governo, fonte inesgotável na amamentação. Todo dia chega um bicho novo para mamar nas doces tetas da pobre ama de leite, a Prefeitura Municipal.

Fico a imaginar que, se na hierarquia dos canonizados pela Santa Madre Igreja Católica, Adroaldo fosse devoto de um santo de importância menor.

Milton Marinho

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