Quando eu vi aqueles meninos da Bernardo Vidal tentando convencer a platéia Zé Carlista de que as ‘transações’ dos seus patrões e dos ‘articulinos’ da prefeitura foram legais, me veio na memória um fato que ocorreu comigo, em 1979, quando ainda era estudante de Direito na Universidade Católica, em Salvador.

Véspera das eleições estaduais (somente para deputado federal e estadual), fui passar um final de semana na histórica Santo Amaro da Purificação, na casa do amigo Genebaldo Correia (aquele mesmo), que se candidatara a deputado estadual pela primeira vez. Ansioso para ‘inaugurar’ a minha carteirinha de estagiário da OAB, atendi ao pedido do amigo candidato para ir até a vizinha cidade de Amélia Rodrigues e tentar ‘soltar’ da cadeia um rapaz que havia sido preso ‘injustamente’, segundo relato da sua mãe.

Lá chegando, deparei com um delegado furioso, que se negava em libertar o rapaz, alegando que este se tratava de um “ladrão perigoso” e que não seria solto nem que Jesus lhe pedisse. Entretanto, ao analisar os motivos da prisão, verifiquei que o ‘ladrão’ era réu primário, tinha residência fixa e bons antecedentes, e que havia praticado apenas o furto de um passarinho, coisa sem maior importância, achei.

Só que eu não sabia de um pequeno detalhe, que complicou toda a história: o passarinho furtado pelo rapaz era o ‘Curió’ de estimação do próprio delegado. Durante o relato do nobre representante da lei sobre as habilidades do Curió, senti até vontade de chorar. Para piorar, o rapaz havia vendido o Curió para um caminhoneiro da Rio Bahia que, àquela altura, já deveria estar pra lá de São Paulo. Fiquei estarrecido, na maior ‘saia justa’ da minha vida e jurei para mim mesmo que jamais atuaria na área criminal, quando me tornasse advogado, e assim o fiz. Com muito jeito e apelando para o prestígio do meu amigo deputado, convenci o delegado a soltar o ‘meliante’ e saí correndo dali, como se fosse eu o ‘criminoso’. Na viagem de volta a Santo Amaro, senti vontade de matar o sujeito, confesso.

Não posso afirmar que os meninos da Vidal tenham passado por um ‘aperto’ como este, no momento em que tentavam defender o indefensável, diante de uma platéia incrédula e desconfiada, mas tenho certeza que eles contavam os minutos para ‘se mandarem’ dali, correndo e sem olhar para traz.

Entretanto, de uma coisa eu não tenho dúvida: se continuarem no ramo, os ‘clones’ da Bernardo Vidal vão bem longe…

Por DAVI FERRAZ

 

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