ITORORÓ: Enquanto o céu de Itororó diariamente é bombardeado por fogos de artifícios pelos nossos políticos, e nossos ouvidos são azucrinados pelas cornetas barulhentas dos carros de sons em carreatas e passeatas há todo momento. A poluição visual de adesivos impregnam os veículos velhos e novos que transitam em todos os lugares levando suas mensagens para todos os cidadãos do município, insistindo eles, em dizer que em Itororó não tem lei. Esnobar da lei faz parte dessa cultura. Fazer vistas grossas para a lei, zombar, escarnecer da lei, está tudo legal. Basta um pouco de mel que deve ser passado nos dedos do prefeito, e em seguida levado a boca de cada vereador. Só assim, os parasitas sociais, disfarçados de legisladores façam as leis que blindam o executivo e este, encontre a sonhada proteção. A tampa e o balaio.

Dos pequenos delitos aos mais graves delitos contra o povo, a justiça só poderá ser feita se tiver a benção do executivo. Este torna o crime, lei. A lei de verdade o vigia, não quer pregá-los na cruz. Por conta do desmatamento desenfreado de nossas florestas, teríamos que solicitar do IBAMA uma licença para tantos madeiros fossem precisos para a crucificação em massa dos canalhas, ciente de que a fiscalização do órgão nos exigiria como contra partida, destinar em terras públicas ou particulares, áreas para o replantio. Mesmo que seja de eucalipto. Olha a celulose chegando aí gente!

A lei de verdade o tolera e, sobre o mel de que falei no início, trata-se de um amigo vereador que disse para mim sobre uma cerimônia praticada nas câmaras de vereadores há muito tempo: Todo prefeito tem de passar mel nas pontas dedos e melar a boca dos vereadores para que estes fiquem calminhos e contentes, senão estes ilustres “representantes do povo” se transformam em rebeldes defensores do povo e isso não seria nada bom para ambos. Seria bom que cada prefeito ao assumir um governo, reservasse parte das receitas do município para a aquisição de potes de mel, guardasse em seu gabinete, estoque suficiente para alimentar a prole, para que ela, realmente mantenha esse modo cruel de defender o povo defendendo a farinha pouca e o pirão primeiro do executivo.

Este mel, cuja safra se dá de diversas fontes oriundas do suor do povo, creio, não servir para melar os lábios da lei. A lei fecha o livro para esses bandidos sociais. A lei prega o seu evangelho de ética, retidão e justiça, mas o cão atenta e os nossos representantes, aquele que a gente elegeu para resolver nossos problemas, e elegemos por considerá-lo os melhores dentre os seres sociais que possa nos defender da classe, é quem mais nos ataca, e nos ataca com classe. Vossa excelência pra lá, vossa excelência pra cá e assim vai… A lei, de camarote, os observa, dá corda aos traidores da confiança e da fé do povo e, às vezes fecha o livro, batendo o martelo a favor do povo. Às vezes.  Enquanto isso a cidade toda melada de mel salpica de estrelas o nosso chão. A propósito, o amigo vereador com a boca, o queixo e o babador lambuzados de mel e muito serviço prestado aos governos, poderá ser eleito vereador pela quinta vez, quem sabe a sexta e a sétima, e a oitava… E assim sucessivamente até o Final dos dias e mais um domingo.

Por fim, relatou-me ainda o ilustre vereador, que esta cerimônia do mel é uma alusão ao cristianismo de que todos eles são adeptos e que seguem ao pé da letra o modo de vida do desapegado João Batista que se alimentava somente de mel silvestre e gafanhotos. Eis que aqui em Itororó, os vereadores se alimentam somente de mel, o manjar dos deuses, o maná dos céus, sem os gafanhotos. Ao ser tentado por satanás, eles, os vereadores do Brasil com raríssima exceção, se lambuzam e se locupletam no apiário produtivo dos públicos, e se perpetuam no poder como se tivessem entrado no paraíso, alcançando assim, a eternidade.

Milton Marinho

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